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Buscando a nós mesmos

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Quando Heráclito disse, “Busquei por mim mesmo”, ele produziu uma das mais férteis máximas e, no que concerne ao místico, uma diretiva para todos os tempos, pois estudante algum da Senda está totalmente desperto para o significado dessa busca até que chega à decisão de buscar por si mesmo.

Não importa que ensinamentos sejam colocados em suas mãos ou que professores ele possa ter tido, vai acabar se deparando exatamente com essa mesma injunção do filósofo grego de 500 a.C. É surpreendente pensar o quanto os antigos nos deixaram da verdade interna da vida e do eu, e quão pouco as gerações que se seguiram parecem ter-se beneficiado disso. Suponho que isso aconteça porque eles escreveram há tanto tempo que, pela própria antiguidade, seus ensinamentos parecem ter pouca aplicação para os dias atuais, já que as pessoas estão hipnotizadas pelas descobertas e experiências da ciência em todo o campo da vida exotérica.

Quanto a nós, contemplamos esses primeiros pioneiros do pensamento com reverência. E aqueles que atingiram certo estágio em nossos estudos sabem que tudo vem de lá. Não que maiores ensinamentos e ajuda invisível sejam negados a eles, mas um aspirante tem que se voltar para si mesmo para colocar em prática a instrução que recebeu; e ele acaba percebendo que isso significa procurar dentro de si mesmo o caminho do Mestre, pois existem estágios definidos do caminho em que o aspirante precisa encontrar sua própria senda. O verdadeiro desenvolvimento interior não consiste em simplesmente ir empilhando conhecimento e mais conhecimento de várias fontes de instrução. Vem de uma compreensão e de uma aplicação mais profunda e sincera daquilo que é disponibilizado para a vida e para ação no mundo. Ele precisa deliberadamente se submeter a testes na vida e nas circunstâncias e aprender lições que não podem ser aprendidas de outra forma.

O mesmo princípio se aplica em qualquer arte ou ciência. Chega o momento em que o estudante tem que dar as costas para os livros-textos de fatos acumulados e provar seu valor em sua própria vida através da meditação e da experimentação.

Heráclito enuncia a mesma verdade de sua própria maneira quando diz: “Viajando por todas as estradas, não vamos conseguir descobrir as fronteiras da alma… ela tem um logos tão profundo”. As ‘fronteiras da alma’ não estão na diversidade de instrução,  mas dentro de nós; e o propósito da instrução é nos esclarecer e fortalecer suficientemente para pesquisarmos internamente as fronteiras do eu interior, nos esforçarmos para conhecer nossa missão individual na vida e nos comprometermos com um serviço dedicado.

Sei que, para alguns, isso pode parecer simplesmente um ideal esperançoso dentro do quadro mundial com que nos deparamos atualmente. Mas não podemos ignorá-lo se nossa intenção é ir para frente e para o alto. Sei também que manter e
alimentar esse ideal, com tanta oposição que nos quer desviar dele, nos leva a julgamento de muitas formas e, muitas vezes, torna o caminho mais duro. Mas todo avanço tem seu preço, e este é que este é um avanço especialmente forte e pessoal.

Contudo, há uma recompensa para cada espiral de caminho percorrido com propósito e compaixão inabaláveis. Para cada aspirante, cada espiral tem uma história e carma individual diferentes e, se aceitado no silêncio e na alma da pessoa que ora, traz uma percepção cada vez mais forte de que estamos chegando cada vez mais perto do mundo do Mestre.

Buscar a nós mesmos, em seu sentido mais verdadeiro, significa entrar cada vez mais na vida de abnegação e de uma liberação das amarras que nos detêm; e alcançar isso será de fato maravilhoso, se pudermos nos entregar ao fogo no altar secreto de nosso coração.

** Reimpresso da edição de novembro de 1963 do Boletim do Capítulo Francis Bacon – Publicado no livro “A Flor da Alma”, editado pela GLP.

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