Código de Vida Rosacruz – Artigo Décimo
Por CHRISTIAN BERNARD, FRC Imperator Emérito da AMORC
Neste artigo, publicamos os comentários do autor ao artigo décimo do Código Rosacruz de Vida, publicado no livro da AMORC com o mesmo nome:
“Não faça alarde de suas realizações nem se vanglorie de seu conhecimento Rosacruz. Pode ser um Rosacruz, como Membro da Fraternidade, mas um Rosacruz em conhecimento e poder; o maior e mais evoluído nos estudos, indigno do título de Rosacruz. Declare-se, não um Mestre, mas um estudante Rosacruz, sempre estudante, eternamente”. – Código Rosacruz de Vida
Ser Rosacruz não é, com efeito, declarar-se Membro da fraternidade, isto é, da Ordem Rosacruz, AMORC, porque se paga regularmente a quota mensal estabelecida estando, assim, perfeitamente em dia com os compromissos financeiros. Não é também, receber e simplesmente ler os ensinamentos Rosacruzes.
Ser Rosacruz é viver o rosacrucianismo e aplicar as leis, os princípios e as regras que nossa tradição nos transmite, progressivamente, para exercitarmos seu bom uso e aprendermos a nos servir deles, de forma completa, e sem possibilidade de erro. Se, portanto, é assim que agimos em nossa senda mística, não há dúvida de que uma das qualidades fundamentais que adquirimos rapidamente é a humildade. Não nos daremos conta, ao progredir, de que quanto mais avançamos, mais ainda teremos que aprender e a colher, no campo infinito que a iniciação Rosacruz faz descortinar-se. A sagrada lei do silêncio também se nos imporá e, em nenhum momento, se formos verdadeiros e sinceros, teremos a ideia de ostentar nossas obras e de nos vangloriar de nosso conhecimento Rosacruz.
Todos os textos sagrados do mundo evidenciam, com diferentes expressões, que no terreno de nossas obras e de nossos atos a serviço dos outros, ou mesmo do misticismo, a mão direita deve ignorar o que faz a esquerda, e este artigo do “Código Rosacruz de Vida” faz-nos lembrar disso, de maneira solene. Por outro lado, quase chega a ser com severidade, uma severidade estimulante para os buscadores como nós, que ele expressa uma verdade profunda e de todos os tempos: “Em conhecimento e poder, o maior e mais evoluído de nós não passa de neófito nos estudos, indigno do título de Rosacruz”. Como o maior ou mais evoluído em conhecimento e realização interior, em um conhecimento que é uma doutrina sagrada e em uma realização que é consciência – “consciência cósmica” – poderá se vangloriar, ele que já alcançou um nível tal em que pode contemplar a imensidade do que ainda lhe resta descobrir? Segundo o fundador do atual ciclo de nossa Ordem, Dr. H. Spencer Lewis, ele poderá, com a visão e as convicções adquiridas, apresentar-se somente como um “neófito”, dando a esta palavra o sublime valor de estudante do alto conhecimento, isto é, do misticismo puro e sagrado de nossa venerada Ordem Rosacruz. As palavras deste artigo que mais nos impressionarão, creio que serão as últimas: “Declare-se, não um Mestre, mas um estudante Rosacruz – sempre estudante – eternamente”. Existe, nestas palavras, um poder que nos abala, como Rosacruzes que somos, até as profundezas de nosso ser: estudante, estudante Rosacruz, estudante eterno! Que grandiosidade contém esta frase e que incentivo representa, quando se sabe que tudo, no decorrer de nossa vida aqui embaixo e alhures, tem para nós valor de estudo e que nada é inútil, na alegria ou na dor, para o nosso último retorno, para nossa reintegração e fusão finais na Unidade. E quem poderá afirmar que, mesmo tendo atingido esta condição, não haverá um novo elemento de um estudo eterno? Não são nossos Mestres a prova disso, eles que, tendo atingido este nível sublime, velam por nossa Ordem e por nós, esforçando-se por resguardar o que é necessário à nossa evolução? Não estudam eles, constantemente, a melhor maneira de nos ajudar a nos reunirmos a eles? Até nisso eles permanecem nosso exemplo e nosso amparo
O artigo dez do “Código Rosacruz de Vida” encerra, também, uma norma da qual todo o Rosacruz deveria lembrar-se, com frequência: “Declare-se, não um Mestre!” Nenhum de nós, certamente, ousaria expressar uma tal pretensão e, menos do que qualquer um, aqueles que, como requer a tradição, estão investidos em cargos e têm responsabilidades. Ser Mestre, no sentido deste artigo de nosso “Código”, é ter atingido a realização última da iniciação, é a reintegração, o estado final do desenvolvimento interior ao qual o iniciado pode ascender, ou o que isto pode representar no sagrado caminho do misticismo, e todo Rosacruz sabe que um Mestre jamais se declara como tal. É preciso recolocar esta pequena frase em seu contexto para compreender seu valor.
Este décimo artigo forma um todo e, em sua integridade, reveste-se de uma excepcional importância, ao insistir na grandiosidade da condição de estudante Rosacruz. Daí ser o título mais elevado e mais nobre a que possamos aspirar, e, para o merecer, é necessário trabalhar com coragem e com perseverança, pondo em prática o que nos é ensinado e, este trabalho, esta aplicação, deve sempre ser presidida pela divina lei do amor.
Que possamos ser, ao caminhar na senda de nossa Ordem, sempre dignos de nossa qualificação de Rosacruzes e que possamos ser, assim, neste mundo conturbado, exemplos, e uma grande esperança para os outros! Que o Cósmico os envolva, a cada instante, em sua poderosa proteção e em seu inesgotável amor!