O mundo se une contra a pandemia provocada pelo novo coronavírus e sua consequência, a doença respiratória COVID19. Em um cenário quase apocalíptico, fronteiras são fechadas, Estados declararam estado de emergência, pessoas foram impedidas de circular livremente em muitos lugares, hospitais estão repletos e com carência de leitos e materiais. Não repetirei os cuidados e precauções, devidamente emanados pelas autoridades da Saúde, para minimizar as contaminações – escrevo este texto próximo de comemorarmos o Ano Novo Rosacruz com o intuito de colaborar para uma reflexão a respeito de fraquezas e grandiosidades da espécie humana na relação com o planeta Terra.
Os vírus não são considerados por alguns cientistas como “seres vivos” pois eles não produzem energia metabólica (não se alimentam, não respiram), são acelulares e só se reproduzem no interior de uma célula. Os que os consideram “seres vivos” usam como argumento o fato deles efetuarem atividades complexas: transmitirem características aos seus descendentes e evoluírem, sofrendo alterações de acordo com o meio. Quando estão fora de um ambiente celular os vírus estão “inertes”, mas, tão logo infectam uma célula, injetam na mesma seu material genético e este se replica rapidamente – rompendo ou brotando da célula hospedeira e infectando tantas outras – a infecção se espalha.
Os vírus não são tratados com antibióticos, destinados às infecções causadas por bactérias. Cada vírus deve ser tratado de maneira a impedir a ação das enzimas produzidas pelo material genético para se replicarem nas células. O problema é que as drogas antivirais são, geralmente, tóxicas para as células humanas. E o vírus, como um mecanismo que busca se autoperpetuar, desenvolve rapidamente resistência às drogas que o combatem.
O que são os coronavírus humanos (CoV)? Esta família viral é composta de sete cepas que são conhecidas desde a década de 1960 mas a ciência já conseguiu determinar quando exatamente cada uma surgiu à humanidade – cada uma delas teve origem em animais. É importante frisar que a maioria dos seres humanos em algum momento de nossas vidas, somos infectados pelas formas mais brandas dessas cepas virais. As mais simples são: a) HCoV-229E – descoberto em 1960, tendo se originado do coronavírus da alpaca, em data indeterminada; b) HCoV-OC43 – descoberto em 2004, origem bovina em 1890; c) HCoV-NL63 – descoberto em 2004, originado do coronavírus de morcego cerca de 800 anos atrás e d) HCoV-HKU1 – descoberto em 2005 e também originado dos morcegos.
As cepas mais perigosas são três:
a) SARS-CoV – descoberta em 2002, originada do contato com morcegos em 1986; b) MERS-CoV – descoberto em 2012, originada do coronavírus de morcegos e transmitida aos seres humanos pelos camelos e c) SARS-CoV-2 – nossa pandemia atual, descoberto em 2019 e há três pesquisas sobre a origem – uma que se originou de cobras, outra que veio do vírus que parasita morcegos mas não se sabe qual animal transmitiu ao ser humano e a teoria mais aceita atualmente pelos cientistas: originou-se no coronavírus que parasita um mamífero carnívoro asiático denominado “pangolim” e que é degustado na China como especiaria gastronômica. Vemos que o vírus se comporta perante a célula humana de uma maneira que podemos comparar ao comportamento da espécie humana perante o planeta Terra.
Analisemos nosso último Manifesto, o Appellatio Fraternitatis Rosae Crucis. Nosso então Imperator escreveu um capítulo denominado “Chamado à ecologia” e ali ressaltou a necessidade de nos preocuparmos com a preservação do planeta. Para que se entenda a questão ecológica, é necessário retornarmos às civilizações antigas onde a relação do ser humano com a Terra era de tamanho respeito que diversas maneiras de cultuarmos nossa ligação com nosso planeta foram desenvolvidas e sistematizadas.
O que os antigos entendiam por “saúde” estava profundamente relacionado com a natureza e seus ciclos – as forças vitais que a tudo permeiam e animam. Desde que a ciência se impulsionou com o Iluminismo e, especificamente a partir do início do século XX, em cada geração que se sucede menos se preza e cultiva uma relação respeitosa com o planeta. As cidades crescem de maneira desordenada e não garantem os cuidados básicos com saneamento, moradia e alimentação que permitam viver harmônica e saudavelmente. Por outro lado, as pessoas que residem no campo na maior parte das vezes adquirem necessidades típicas de quem mora nas regiões urbanas e, vivendo em função de produzir para as cidades, perdem sua própria relação com o campo e com o que produzem.
Com a velocidade que a epidemia do COVID19 se transformou em pandemia, os detentores do poder político e econômico no mundo tiveram que decidir por ações rápidas, difíceis, envolvendo vários aspectos da vida cotidiana e do planejamento a curto prazo. Isso no raiar de uma década onde a temperatura média vem aumentando consideravelmente com fortes impactos nos oceanos, nas regiões polares e, em consequência, no clima. Uma poderosa rede que é ao mesmo tempo resultado da evolução das espécies e da interferência delas no ecossistema que partilham está sendo constantemente tensionada em quase todos os seus pontos. A ciência nunca procurou ser fantasiosa ou alarmista – ela apenas tenta decifrar o mundo em suas manifestações e apontar os riscos que estamos conscientemente ou não assumindo quando mantemos um estilo de vida que exaure os recursos da natureza. E a ação humana ao transformar tais recursos em bens e produtos nem ao menos garante que essas riquezas sejam igualmente partilhadas pelos povos e vemos, então, nações pobres destruindo seus solos, fauna e flora para que sejam fornecedores do consumo em países ricos.
Apenas para facilitar que visualizemos a importância de mensurarmos e entendermos a importância da nossa interferência no ambiente, cidadãos de Veneza, Itália, declararam que as medidas de quarentena para frear a propagação do COID19, impedindo o turismo e minimizando movimentações na cidade, em pouco tempo – dez dias – deixaram seus famosos canais com águas cristalinas e uma fauna que nunca fora observada. A natureza possui alto poder de adaptação e de readaptação – quando impermeabilizamos o solo com asfalto ela buscará outras maneiras de escoar suas águas – o que para nós é a enchente que desabriga famílias e causa prejuízos, para a natureza é o cumprimento de suas leis impessoais e que buscam sempre o equilíbrio. Nós é que necessitamos racionalmente entender e tentarmos, também, a harmonização com ela.
Como estudantes Rosacruzes temos diversas possibilidades de entender e trabalhar pela busca desse equilíbrio com a natureza. Podemos começar em nossas visualizações, sempre enxergando o planeta e habitantes vivendo em felicidade, harmonia, saúde, compaixão e amor. Um dos aspectos que podemos destacar da pandemia, inclusive, é que em todo o mundo a palavra “solidariedade” está em voga, unida ao sentimento de compaixão. A necessidade de impedirmos a propagação do vírus, dos cuidados para não sermos facilitadores de contágio, trouxe às discussões a necessidade imperiosa de pensarmos no próximo, ou seja, de entendermos o “outro” como passível de cuidados e extensão de nós mesmos.
Devemos incluir em nossas visualizações e mais sinceras preces que as pessoas trabalhadoras nas áreas de saúde e as que pesquisam para desenvolver remédios e vacinas sejam sempre beneficiadas por profundo sentimento de gratidão, assim como aos doentes e suas famílias devemos destinar vibrações de conforto, saúde e paz. Além do trabalho metafísico, telefonar ou escrever para parentes e amigos, conversar com confiança e certeza da Lei Cósmica sempre se cumprir auxiliará no campo emocional e psíquico das pessoas que possam estar sofrendo – seja com a doença ou com a angústia que a situação de crise traz.
Refletir sobre nossos hábitos de consumo, de alimentação, de busca da saúde integral e de respeito com o planeta Terra, a Mãe Natureza e todos os seres vivos – corpo e alma buscando harmonização assim como pensamento, palavra e ação buscando sintonia – nos proporcionará caminhos talvez diferentes, mas onde nunca nos sentiremos sozinhos pois cientes do nosso papel cósmico. O impacto do coronavírus é grande e ainda trará muitos dissabores à humanidade, mas devemos reagir não só à crise do presente como aos desafios do futuro, plantando as sementes que poderão modificar a estrutura da nossa existência no planeta – não sejamos um vírus a adoecer a Terra!
Reler o Appellatio, dando ênfase às colocações sobre a Ecologia, será de extrema valia ao fortalecimento da nossa relação com a Natureza e com nossa condição Rosacruz – membros de uma Egrégora que sempre proporciona a Luz e a Vida como resultado do Amor. 4
* Lauro Fabiano de Souza Carvalho, MsC, FRC – Bacharel em Filosofia, Bacharel e licenciado em História, Mestre em História Econômica (USP), Doutorando em Bioquímica Médica (UFRJ), membro da AMORC desde 1980.
Glossário: Cepa: termo figurado para tronco ou linhagem quando usado em classificações científicas.
Epidemia – manifestação de um número de casos de alguma doença em um período de tempo determinado, em uma região, que excede a incidência prevista.
MERS – “Middle East Respiratory Syndrome” (Síndrome Respiratória do Oriente Médio)
Pandemia – epidemia que alcança grandes extensões geográficas, de forma quase simultânea ou com deslocamento entre continentes.
RNA – “Ribonucleid acid” (ácido ribonucleico): molécula formada por nucleotídeos que fazem codificação e descodificação genética.
SARS – “Severe Acute Respiratory Syndrome” (Síndrome Respiratória Aguda Grave)
Bibliografia consultada: 1. Página da Organização Mundial de Saúde https://www.who.int/es/health-topics/ coronavirus/coronavirus. Acessada em 17/03/2020; 2. Página da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/coronavirus.html. Acessada em 16/03/2020; 3. Página da revista científica The Lancet https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30251-8/fulltext. Acessada em 18/03/2020; 4. Portaria 2.259 do Ministério da Saúde Brasileiro https://www.normasbrasil.com.br/norma/portaria-2259-2005_193478.html. Acessado em 18/03/2020. 5. Página no Facebook do grupo Veneza Pulita https://www.facebook.com/groups/378156922321320/permalink/1796203493849982/?hc_location=ufi; Acessada em 17/03/2020; 6. Appellatio Fraternitatis Rosae Crucis. Curitiba: AMORC, 2015.