Flores no Jardim Cósmico
O sentido da nossa vida como seres humanos no mundo é o de que ela é meio para um fim que a transcende. Ou seja, é através dela que se cumpre a finalidade ou razão de ser de nossa existência como tais seres, mas não é nela mesma que está essa finalidade. Um indício desse sentido da vida humana é a sua transitoriedade. Como tudo o que tem começo, duração e fim, nossa vida não pode ter razão de ser em si mesma. Do contrário teria se originado ao nosso nascimento de um “nada absoluto” – um absurdo; e ao se encerrar quando da nossa morte, qualquer que tivesse sido sua duração, estaria recaindo num “nada absoluto” – novamente um absurdo.
Originamo-nos necessariamente em algo transcendente que precede nossa existência e nossa vida no mundo e que não pode ser um “nada absoluto”. Destinamo-nos necessariamente a esse mesmo algo transcendente que persiste após nossa vida no mundo e que não pode ser um “nada absoluto”. Por conseguinte, na realidade não somos seres em sentido absoluto; isto é, seres com essência imanente, natureza própria. Somos seres em sentido relativo, manifestando funções do ser absoluto e necessariamente único, eterno e infinito… do Ser Essencial que nos precede e subsiste, que é fonte (origem), sede (essência) e destino (resolução final) de tudo. Temos mais propriamente a natureza de fenômeno do que a de ser. Vale dizer, a natureza de algo que tem começo, duração e fim, no tempo e no espaço, e que é parcialmente observável, objetivamente perceptível e compreensível.
A planta florífera… sem flores… agora com botões. E as flores desabrocham e cumprem sua função na vida da planta. Depois murcham e caem da planta no solo; “morrem”, deixam de existir como flores “vivas”, apodrecem e se decompõem no solo, deixando finalmente de existir como flores. A planta florífera… sem flores…
A mesma planta florífera… agora com novos botões. E as flores desabrocham e cumprem sua função na vida da planta. Depois…
A planta florífera e as flores: A planta… o “ser” que é fonte, sede e destino das flores. As flores… que não existem por si mesmas nem para si mesmas, mas que existem por força de leis físico-químicas da natureza da planta e se manifestam num sistema físico-químico que possibilita o cumprimento de sua necessária função na vida da planta.
O universo. Sistema complexo composto de coisas, fenômenos e seres… Coisas? Seres? Não! Fenômenos. O universo é composto de fenômenos… inclusive o ser humano! Todos esses fenômenos manifestando potencialidades do Ser Essencial e cumprindo funções naturais na vida Dele… inclusive o ser humano!
O universo: coisas, fenômenos e seres… fenômenos… flores no Jardim Cósmico! O ser humano… flor no Jardim Cósmico. Flor… por que não rosa… a desabrochar pela cruz da vida no mundo… na Vida do Ser Essencial?
A roseira e as rosas: A roseira… o “ser” que é fonte, sede e destino das rosas. As rosas… que não existem por si mesmas nem para si mesmas, mas que existem por força de leis da natureza da roseira e se manifestam num sistema físico-químico transitório que possibilita o cumprimento de sua função necessária na vida da roseira.
Rosas… que nascem, desabrocham e morrem… nascem, desabrocham e morrem… nascem, desabrocham e morrem… nascem… desabrocham… à plenitude de serem na roseira!
Nossa vida, então, requer que lhe demos um sentido que a transcenda… algo que passe por ela e evolua (desabroche…) para se realizar num estado de ser sublime, num fenômeno sublime (fragrância maravilhosa no Jardim Cósmico!).
Jardim Cósmico… misterioso e mágico… místico! Transcendência florífera que produz diferentes flores: rosas… que desabrocham na Vida do Ser Essencial… e também girassóis… que se voltam para o Sol e se deixam iluminar!
Assim se completa o sentido da nossa vida como seres humanos no mundo: pela dedicação a valores, gostos, interesses e objetivos que propiciem o nosso desabrochar para a sublimidade na Vida do Ser Essencial e o nosso direcionamento da consciência para a Luz do Ser Essencial.
Rosas… e girassóis… no Jardim Cósmico… todas irmãs por divina genealogia… no Amor do Ser Essencial!
Nota: Este artigo apresenta a ideia fundamental do livro “Ser no Ser – Teorema e Credo da Vida Humana”, do mesmo autor.