Todos nós, com certeza, quando temos a grande sorte de termos um espaço para um jardim, adoramos ficar perto de nossas plantas. Seja pequeno ou extravagantemente grande, cada jardim é um microcosmo de energias ocultas com as quais, em determinadas ocasiões, sentimos um contato particularmente próximo. Não conseguimos identificar exatamente o efeito que nosso pedacinho “autocriado” de natureza tem sobre nós, mas quando nos sentimos fisicamente cansados ou mentalmente esgotados, nossos jardins parecem ter uma capacidade mágica de nos deixar com o corpo calmo e os pensamentos revigorados. Também são refúgios de inspiração, e muitos poetas e escritores se beneficiaram de seu feitiço cativante. Poderíamos dizer que o “Livro da Natureza” é um verdadeiro texto, cheio de significados divinos, se soubermos como interpretar suas múltiplas páginas.
De uma perspectiva rosacruz, compreendemos isso em termos da Mente Universal e da filosofia panteísta, em que Deus é visto como estando e existindo em todas as coisas tanto no reino material quanto no reino imaterial. Isso pode ser complementado talvez pela crença tradicional indiana, que diz que as plantas estão em meditação permanente e afinadas com o mantra primordial OM, que é exalado pelo Sol e enviado para a Terra. Isso é belamente resumido por Wolf-Dieter Storl na edição de 2001 de seu livro Pflanzendevas (A Natureza Espiritual das Plantas):
“O mantra primordial, materializado na luz, é transmitido a nós pelas plantas através de um processo revigorante. Apenas as plantas são capazes de ligar dessa forma os reinos celestial e mundano. Na linguagem sagrada dos Vedas, as plantas são designadas pela palavra osadhi. A palavra é composta de osa (transformação pela queima) e dhi (recipiente) nesse sentido, as plantas podem ser consideradas recipientes para a metamorfose do fogo cósmico.” 1
Trata-se de um ponto de vista profundamente místico que vê as plantas no centro de um processo alquímico da vida, como agentes entre o sol e nós. Apesar de podermos discordar de alguns dos princípios metafísicos contidos na passagem acima, como Rosacruzes podemos certamente nos identificar com a essência cósmica que está sendo evocada.
Alquimia das plantas
Mas, voltando à tranquilidade dos nossos jardins, refletindo silenciosamente sobre todo o verde e toda a vida que nos rodeia, será que alguma vez pensamos nas energias vibratórias que se manifestam e se transformam dentro dele diante dos nossos olhos? As plantas estão constantemente realizando um processo alquímico interno de transmutação. Não é verdade que nos maravilhamos diante daquelas sequências em câmara lenta nos documentários sobre natureza, em que podemos observar seu crescimento externo e transformação com tão fascinante concisão e detalhe?
Essa alquimia interna se manifesta, é claro, num processo químico bem real chamado fotossíntese, que é instigado pelos fótons da luz gerada pelo sol. E é aí que o ponto de vista hindu apresentado na citação acima contrasta, mas também ressoa de uma forma profundamente espiritual na ciência da vida real. A fotossíntese é a forma de a planta fabricar sua própria comida. O pigmento da clorofila na parte “verde” das folhas capta a energia do sol e isso ativa a produção de comida a partir de ingredientes bem simples: dióxido de carbono e água. A água, contendo nutrientes e minerais valiosos, é retirada do solo pelas raízes das plantas e levada até as folhas onde se mistura com o dióxido de carbono do ar e se convertem em açúcares, que são absorvidos pelas plantas para fazer com que elas cresçam. Durante esse processo, a planta libera oxigênio e, juntamente com a absorção de dióxido de carbono, realiza uma função vital no sentido de preservar a atmosfera de nosso planeta.
Os elementos
Fazendo um balanço de todos os elementos desse ciclo de energia, podemos ver um exemplo vivo de elementos alquímicos interativos da Terra, Água, Ar e Fogo. Rudolf Steiner, fundador do movimento Antroposófico, viu os quatro elementos refletidos nas partes constituintes da planta da seguinte forma:
V Raízes = Terra
V Folhas = Água
V Flores = Ar
V Sementes = Fogo
Ao lermos o artigo “O Fogo Interno” (Edição de junho de 2008 do Rosicrucian Beacon) poderemos, talvez, fazer nossas próprias comparações com relação à rotação dos elementos que agem nas plantas e nos seres humanos. Não é difícil descobrir uma complementaridade subjacente entre os dois; especialmente se tivermos em mente a filosofia hindu apresentada acima.
O uso dos elementos num jardim japonês Zen é evidente; carregado de simbolismo esotérico e refúgios de manipulação deliberada de plantas, água, pedras e características arquitetônicas, juntamente com o uso do vento, do fogo e de coisas semelhantes, para aumentar a atmosfera de tranquilidade espiritual. Nós, ocidentais, temos uma tendência a sermos mais conservadores e a permanecermos dentro dos modelos arquitetônicos nacional e tradicional, que são muitos. É claro que isso não é errado. Fazemos o máximo dos nossos jardins dentro dos nossos parâmetros culturais, e entre os tipos que identificamos como sendo ocidentais estão desde o jardim de casas do interior até arranjos mais formais. Os nossos jardins têm uma tendência a gravitar mais no sentido do elemento terra com um pouco de ênfase no lado água; enquanto que o jardim japonês parece combinar nele todos os elementos.
Talvez também tenhamos a tendência a trabalhar demais entre uma abordagem funcional e um projeto estético no qual, por exemplo, queremos que o pátio seja grande o suficiente para ter uma mesa, seis cadeiras e uma churrasqueira. Em um jardim pequeno, isso pode ter um efeito prejudicial pelo fato de ser menos direcionado a se obter um refúgio de paz e tranquilidade. Um jardim de tamanho médio ou grande pode ter todos os obstáculos retirados e haverá bastante espaço para se experimentar. Pode-se, no entanto, combinar funcionalidade e beleza, até com conteúdo simbólico. Leia sobre os jardins japoneses e veja o que pode lhe ser útil.
Os ciclos celestes
Seguindo os ditames da Lei Cósmica, a energia de uma planta nunca é estacionária; existe sempre uma mudança, quer seja num ritmo diário, mensal ou anual. O ciclo mais importante é naturalmente a revolução anual da terra em torno do sol, resultando nas quatro estações. Mas existe também a antiga tradição da jardinagem lunar, segundo a qual a plantação e a colheita acontecem de acordo com o ciclo lunar. Trechos de trabalhos de Homero e Hesíodo indicam que os gregos usavam os meses lunares. Hesíodo, em seu trabalho Trabalhos e Dias, datado do século VIII a.C., mostrou que ele muitas vezes usava as constelações para planejar a plantação e a colheita.
Em tempos mais recentes, este sistema foi abandonado devido ao aumento do uso de fertilizantes, mas nas últimas décadas a prática tem sido revivida, principalmente devido ao sistema de agricultura biodinâmico de Steiner, desenvolvido na década de 1920.
Plantio lunar
Como estamos discutindo o plantio baseado no ciclo lunar, podemos muito bem perguntar: como é que ele funciona? Parece que há uma combinação dos efeitos lunares como diferentes quantidades de luz refletida sobre a lua, sua força gravitacional sobre os fluidos da planta, o efeito cíclico de elevação e abaixamento das águas dos oceanos e as distorções no campo magnético da terra.
Os agricultores “lunares” acreditam que a força da gravidade lunar afeta o fluxo de umidade no solo. Este efeito seria maior nas fases de lua nova e de lua cheia, quando o sol e a lua estão aproximadamente alinhados com a terra. É mais fraco no primeiro e no último quartos das fases da lua. Portanto, para se tirar vantagens do ciclo lunar, um jardineiro deve evitar virar o solo em seu jardim quando ele contém a maior umidade, isto é, durante os períodos de lua cheia e nova. Essa maior umidade incentiva as sementes a germinarem e a crescerem, especialmente com a luz da lua cheia, já que se acredita que ela tenha um efeito na germinação das sementes, com base no fato de a exposição à luz fortalecer o processo.
Uma defensora particularmente moderna desse método de jardinagem é Maria Thun, cujos livros sobre o assunto têm influenciado jardineiros e fazendeiros de todo o mundo. Existe atualmente uma literatura bastante extensa sobre jardinagem de acordo com a lua, e os calendários lunares anuais se tornaram indispensáveis para muitos jardineiros.
Sugestões práticas
Existem muitas coisas práticas que podemos fazer para ajudar a permanecer em contato com o mundo natural de nossos jardins. No que diz respeito à lua e seus efeitos, vá até o jardim à noite e simplesmente sente-se ou fique de pé e sinta em silêncio como as diversas energias estão operando durante as diferentes fases do ciclo lunar. Tente entrar em sintonia com as plantas e perceber a forma como elas estão experienciando a influência da lua. Delicadamente segure as folhas ou o tronco e tente sentir sua energia vibratória interna. Faça isso também durante o dia, concentrando-se na essência cósmica do sol, dando vida a tudo o que você vê. Respire nos raios cósmicos do sol e imagine as plantas fazendo o mesmo. Tente fazer esses exercícios em horários diferentes durante o dia. À medida que se afina com os padrões sutis da maré alta e da maré baixa, você vai aprofundar o seu relacionamento com as plantas em seu jardim.
Mas, voltando ao nosso parágrafo inicial sobre o efeito benéfico que os jardins nos proporcionam, percebemos que eles são ambientes temporários que nos permitem fazer uma pausa para um pouco de descanso em um mundo que muitas vezes pode parecer o oposto do que se espera de algo que é intrinsecamente divino e parte integrante do cósmico. Durante a nossa permanência física na Terra encontramos tanto coisas ruins e escuras quanto coisas boas. Isso é inevitável e faz parte da nossa caminhada em direção ao autoconhecimento. Mas, considerando as plantas de nossos jardins, elas têm suas raízes na escuridão e crescem para a luz, e seu sustento é recebido de ambos os mundos…, do de cima e do de baixo. Podemos aprender com elas que o caminho do avanço espiritual envolve aproximar essas duas polaridades da luz e da escuridão, do sol e da lua, dentro de nós, em mútua harmonia, em nosso esforço permanente de nos aproximarmos de Deus.
Nota: 1. McIntosh, Christopher. Garden of the Gods, I.B. Tauris, p.138.